18.6.09

Mais um retrocesso no Brasil de meu Deus

Enquanto a gente sonhava com um curso mais qualificado - nem que, para isso, tivessem que colocar mais disciplinas para alimentar ainda mais os nossos jovens jornalistas com noções de ética, moral, honestidade e tantas outras lições -, eles, que são os "doutores" do judiciário brasileiro, dizem que não, não é mais necessária esta formação, ela "atenta contra a liberdade de expressão", um dos direitos fundamentais previstos na C.F e "blábláblá". É como se qualquer pessoa com uma boa dose de conteúdo e senso crítico tivesse subsídio para informar com responsabilidade, como se nós aprendessemos na vida cotidiana o que é interesse público e o que não é, e como se o jornalismo fosse algo que apenas a prática ensinasse. Enfim, basta ter um bom texto, um bom argumento e pronto! Ou, melhor dizendo na linguagem utilizada por eles, basta ter uma boa mão e bons ingredientes para se fazer uma boa receita.
O que o Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes e demais componentes do STF que compartilham dessa teoria devem ter esquecido é que, até para se fazer uma receita, não basta só a mão e os ingredientes, é preciso aprender o modo de como se realizar aquilo, assim como é necessário ao cozinheiro saber o que pode ou não misturar. Até eu, péssima no que diz respeito a questões culinárias, sei disso. Se num país de corruptos como o nosso, as informações já não chegam a nós como deveriam, o que esperar do futuro do jornalismo a partir de então? Que produtos jornalísticos veremos?
Para nós, que convivemos um pouco mais dentro deste meio, não é muito difícil prever consequências das mais desastrosas do ponto de vista do que se entende por imparcialidade da informação (que nunca existiu, não existe e nunca existirá por completo,é bom ressaltar, nós sabemos disso!), bem como dentro do campo da responsabilidade social. Eu antevejo sim, não só a perpetuação, bem como o crescimento de programas sensacionalistas e o surgimento de jornais ainda mais associados a poderes obscuros, com ideologias vendidas a preço de banana. Será terrorismo o que estou dizendo?Por que será então que eu tenho essa sensação de que foi tirado de um mendigo o pedaço de pão que ele tinha, quando era necessário que dessem a ele um pouco de café para acompanhar?
Uma outra coisa: no discurso deles, para quem acompanhou, é como se as pessoas não tivessem meios para expressar suas opiniões. O que é a Internet senão um meio propício para isso? Que eu saiba é uma mídia aberta, onde todos podem colaborar com o que quiserem. Para isso existem os sites, os blogs, os fóruns, e tantos outros meios. Nos jornais, escritos ou online, há espaço para os leitores, sem falar nos veículos cujos conteúdos são basicamente opinativos. O próprio texto abaixo, cujo o autor eu não sei quem é - se é um jornalista por formação decepcionado como eu, ou algum outro profissional qualquer que, assim como nós, discorda da posição do STF -, sinaliza que muitos profissionais das mais diversas áreas podem manter artigos, colunas e falar do que quiserem em várias mídias, ou seja, podem perfeitamente manifestar suas opiniões. Reclamar de falta de espaço? O que nunca foi problema serviu agora de desculpa para mais um retrocesso no Brasil.
Hoje em dia, apenas um pouco mais da maioria dos jornalistas que trabalham nas redações têm diploma e, muitos do que não possuem, devemos admitir, são exímios jornalistas, porém, voltar a não exigir a obrigatoriedade do diploma é caminhar na contramão.
Volto a dizer que, na minha modesta opinião, os cursos de jornalismo tinham que agregar ainda mais disciplinas - tanto as que aprimoram o uso da língua, quanto as que colaboram para formar uma ética profissional que corresponda às necessidades da boa informação. Noções de política, de economia, e até um pouco mais de base em línguas estrangeiras, tudo isso deveria fazer parte da grade obrigatória e optativa dos cursos brasileiros. Mas, se eles acham que não é preciso formação, o que eu vou dizer? Eles fazem parte da cúpula do poder que julga, o poder que "diz" o direito. Entretanto, reforçam como nunca o pensamento de que "nem sempre o que é legal é moral", e vice e versa.

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Enfim, o mais engraçado é que na mesma noite em que a notícia do fim da obrigatoriedae do diploma de jornalista ( o que para mim já foi bastante cruel) foi dada, uma outra me chamou ainda mais atenção: a do projeto de lei que propõe o aumento do número de vereadores. Isso sim é necessário? Precisamos de mais vereadores para trabalhar para o país? Está pouco, não é verdade?
O Brasil é um dos países que mais gastam com agentes políticos no mundo inteiro. O que precisamos não é de mais políticos para inflar nossos cofres públicos. Precisamos apenas que eles TRABALHEM, só bastaria isso para que as coisas caminhassem. Mas, como sempre nesse país, eles votam leis que beneficiam somente a eles, legislam em sua causa própria, em geral aproveitando-se de momentos e episódios catastróficos, de grande comoção, para os quais a atenção da população e da mídia estão totalmente voltadas, de modo que tudo se cumpra de forma indolor.
Aliás, esses outros senhores do legislativo, quando não estão na tribuna tecendo homenagens a si próprios, a outras "Excelências", ao próprio Estado ou a "sicranozinho" do seu próprio Estado, estão propondo projetos de leis para criar o dia da baiana do acarajé, o dia nacional do motociclista etc etc. Em suma, coisas muito importantes para o nosso país, sem dúvida alguma! A população assiste sem ter muito o que comentar por falta de informação para entender a própria informação, afinal a própria mídia também ajuda a cuidar para que a ordem das coisas não se altere. Essa mesma mídia traiçoeira que por ora tentam piorar.
É duro meus caros colegas "jorzinheiros". Só uma cachaça para fazer descer mais um absurdo desses. Por falar nisso, será que sempre escreverão cachaça com "Ç" mesmo? Melhor não pensar nisso. Peguem suas frigideiras e continuem a cozinhar seus textos, na torcida de que tudo isso seja apenas a velha dose de ceticismo que qualquer academia ensina a conservar.

Fim do diploma de jornalista: retrocesso profissional e político - Luiz Gonzaga Motta

O Supremo Tribunal Federal decidiu nesta quarta-feira, 17 de junho, pela não obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista. Assim, qualquer pessoa, independente de sua formação, poderá exercer o Jornalismo, mesmo que tenha apenas curso primário. Pior ainda, as empresas jornalísticas poderão contratar e colocar nos cargos de repórter ou editor os seus afilhados pessoais, compadres e apadrinhados políticos, independente do preparo da pessoa para a responsabilidade destas funções.

A quem interessa o fim da exigência do diploma de jornalista? Os méritos do diploma para a profissão do Jornalismo e para a sociedade são tantos, e tão óbvios, que é difícil imaginar razões coerentes para acabar com ele.

O argumento contra a reserva de mercado não cabe. A legislação em vigor não é exclusiva. Quem não é formado em Jornalismo, como médicos, engenheiros, advogados e outros profissionais, pode escrever regularmente artigos sem nenhuma restrição. Pode manter colunas, apresentar um programa de TV, debater neste programa, criar blogs etc. A legislação não é restritiva. É só conferir a diversidade de conteúdos que existe hoje na mídia brasileira. Todas as outras profissões liberais exigem formação específica. Por que o Jornalismo seria exceção?

A liberdade de expressão também não é argumento contra o diploma. Basta abrir qualquer jornal ou revista, ligar a TV em um canal qualquer ou acessar os portais da internet para ler ou assistir a livre expressão de ambientalistas, ruralistas, religiosos, agnósticos, militantes radicais ou conservadores. Tem de tudo. Por conta da legislação atual, ninguém deixa de se expressar livremente. O mercado de idéias nunca foi tão livre, fértil e plural neste país. A exigência do diploma nada tem a ver com restrição à liberdade de expressão, portanto.

Se as escolas proliferaram e algumas delas têm qualidade suspeita para formar bons jornalistas, colocando no mercado profissionais desqualificados, o remédio não é acabar com o diploma. É preciso monitorar os cursos, aprimorá-los, avaliá-los periodicamente e fechá-los em caso de reincidência. Mas, a exigência do diploma nada tem a ver com a má qualidade de muitos jornalistas. Cursos de Direito foram recentemente mal avaliados, mas ninguém sugeriu acabar com exigência do diploma de advogado por causa disso. A má qualidade não decorre da exigência do diploma. Não vale enfiar a cabeça no buraco, como um avestruz.

Aparentemente, só empresas provincianas, familiares ou pouco profissionais têm interesse no fim do diploma. Isso daria a elas liberdade para empregar parentes, afilhados e compadres, sem formação. Talvez o fim do diploma possa ser também útil a algumas empresas de fachada moderna, mas interessadas no enfraquecimento da profissão para reduzir salários e manipular as relações empregatícias. Argumento mesquinho e arcaico. Como se fosse justificável hospitais e clínicas contratarem práticos da saúde no lugar dos médicos e dentistas formados para pagar a eles salários menores. Ou, se pudéssemos voltar ao tempo dos rábulas, para substituir os advogados formados.

A profissão de jornalista foi abastecida nos últimos 40 anos pelos cursos universitários, uma conquista da categoria e da sociedade. Nas últimas décadas, o Jornalismo brasileiro ganhou qualidade com a existência das escolas e a exigência do diploma. A maioria dos grandes nomes do Jornalismo brasileiro, hoje, é formada em faculdade. Não é preciso enumerá-los.

O Jornalismo passa hoje por uma mudança radical. O jornalista é cada vez menos um técnico e cada vez mais um analista político e social. Com desenvolvimento da tecnologia multimídia e o avanço da democracia no país, o Jornalismo tornou-se o espaço público por excelência. O espaço de mediação democrática dos conflitos. As fontes tornaram-se atores políticos e sociais ativos. Profissionais capazes de interpretar os conflitos e lidar com a multiplicidade de fontes são formados pelas universidades, não pelas relações clientelistas.